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LIÇÃO Nº 11 – VIVENDO DE FORMA MODERADA

LIÇÃO Nº 11 - VIVENDO DE FORMA MODERADA TOPO

O domínio sobre si mesmo é o resultado da ação do Espírito Santo sobre a vida do ser humano.

INTRODUÇÃO

– Estudaremos nesta lição a última das qualidades do fruto do Espírito elencadas em Gl.5:22, a saber, a temperança, que é o domínio próprio, o autocontrole, o domínio de si mesmo.

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Trata-se, portanto, de uma das qualidades do fruto do Espírito concernentes à relação do homem consigo mesmo.

– A temperança é apresentada, na filosofia moral, como uma das virtudes cardeais, ou seja, como uma das “disposições firmes e habituais de fazer o bem” do homem, em torno das quais se estabelece todo o caráter do homem.

No entanto, a filosofia e até mesmo a teologia católico-romana consideram a temperança como uma virtude natural, humana, o que, entretanto, não corresponde ao ensinamento bíblico.

A verdadeira temperança, o verdadeiro controle-próprio é resultado direto da ação do Espírito Santo sobre a vida do indivíduo.

OBS: Este pensamento equivocado está cristalizado no Catecismo da Igreja Romana, nos §§ 1804 e 1805, que ora transcrevemos:

“1804 As virtudes humanas são atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições habituais da inteligência e da vontade que regulam nossos atos, ordenando as nossas paixões e guiando-nos segundo a razão e a fé.

Propiciam assim facilidade, domínio e alegria para levar uma vida moralmente boa. Pessoa virtuosa é aquela que livremente pratica o bem.

As virtudes morais são adquiridas humanamente. São os frutos e os germes de atos moralmente bons; dispõem todas as forças do ser humano para comungar do amor divino. 1805 Quatro virtudes têm um papel de “dobradiça”.

Por esta razão são chamadas “cardeais”; todas as outras se agrupam em torno delas. São elas: a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança.…”

I – O QUE É TEMPERANÇA

– A palavra “temperança” não se encontra no Antigo Testamento, o que não significa que este conceito não esteja presente.

Por três oportunidades (Versão Almeida Revista e Corrigida:

Gn.43:31 – “conteve-se”;

I Sm.13:12 – “violentei-me” e

Et.5:10 – “se refreou”),

surge a forma verbal “aphaq” (אפק ), que tem o sentido de “refrear-se”, “conter-se”, para indicar o domínio próprio ou uma aparência de domínio próprio, passagens que, na versão grega (a Septuaginta) foram traduzidas pelo verbo “enkrateuomai” (εγκρατεομαι), que é o verbo correspondente ao substantivo “enkrateia”(εγκρατεία), que é, precisamente, o termo “temperança”.

– Em o Novo Testamento, a palavra “temperança” é o termo grego “enkrateia”( εγκρατεία), que, literalmente, é o “governo interior”, ou seja, o “domínio próprio”, vocábulo que se encontra por três vezes nas Escrituras, na Versão Almeida Revista e Corrigida (ARC), a saber:

At.24:25,

Gl.5:22 e

II Pe.1:6.

O adjetivo “temperante” está presente em Tt.1:8 e “temperada” em Cl.4:6. Mas não são apenas nestas passagens que temos a ideia de temperança, que presente está em outros textos no Novo Testamento.

– Dizem os lexicógrafos que a temperança é “a qualidade ou virtude de quem é moderado, comedido”, “o poder ou virtude pela qual o homem pode refrear os apetites desordenados”.

Verificamos, então, que a temperança é o domínio que alguém tem sobre si mesmo, sobre os seus apetites. A ideia de temperança vem de

proporção, de

sobriedade, de

moderação.

– Para entendermos a temperança e seu significado, sobretudo do ponto-de-vista espiritual, temos de se nos reportar à criação do homem.

A Bíblia afirma que quando Deus resolveu criar o homem, propôs fazer um ser que fosse conforme a Sua imagem e semelhança (Gn.1:26), ou seja, um reflexo da divindade, um ser que, ao ser visto, reportasse ao seu Criador.

– Dentro deste propósito, o texto sagrado afirma-nos que o homem foi feito com o objetivo de dominar a criação sobre a face da terra e, neste domínio, estaria reproduzindo o senhorio de Deus sobre todas as coisas.

Embora fosse servo de Deus, ao homem foi destinado o domínio da criação na terra, ou seja, foi lhe dada a supremacia sobre a criação na Terra, o que se constitui na própria essência da mordomia, ou seja, o homem é um servo superior de Deus na Terra.

Ora, para que possa dominar sobre a criação na Terra, o homem teria de dominar sobre si mesmo, porquanto foi criado com livre-arbítrio, com a faculdade de escolha entre o bem e o mal.

O requisito para que o homem tenha domínio sobre si próprio é a submissão a Deus, segundo a qual se faz o bem.

O próprio Senhor é quem fez questão de deixar isto bem claro depois da queda do homem, quando interpelou Caim e lhe disse que se não fizesse o bem, o pecado o dominaria (Gn.4:7).

OBS: “…O império sobre si mesmo é a raiz de todas as virtudes. Se o homem deixar toda a liberdade aos seus impulsos e às suas paixões renuncia desde esse momento à sua liberdade moral. Será arrastado pela corrente da vida e tornar-se-á escravo dos seus caprichos.

Para ser moralmente livre, para ser mais do que um animal, o homem deve poder resistir aos impulsos do instinto, e não alcançará esse fim senão com o costume de dominar-se a si próprio.

É esse poder que constitui a verdadeira diferença entre a vida física e a vida moral e forma a base principal do caráter individual.

Na Bíblia, encontram-se elogios não para o homem forte que ‘toma uma cidade’, mas para o homem mais forte ainda ‘que governa o seu próprio espírito’.

Esse homem mais forte é aquele que, pela disciplina, exerce um exame constante sobre os seus pensamentos, as suas palavras e as suas ações.…” (SMILES, Samuel. O caráter. Trad. de D. Amélia Pereira, p.199-200).

– O homem no pecado não tem condição de dominar a si próprio, mas quem o domina é a natureza pecaminosa que nele está, de modo que Paulo afirma que o pecador não consegue fazer o bem que quer, mas o mal que não quer é que é feito (Rm.7:19), de tal sorte que o homem não passa de um instrumento do pecado que nele habita (Rm.7:20) e, por isso, é chamado por Jesus de servo do pecado (Jo.8:34).

O domínio de si próprio exige, antes de mais nada, que o homem possa se libertar do domínio do pecado e isto só é possível mediante a salvação na pessoa de Cristo Jesus (Jo.8:36).

– Somente pode ter temperança, ou seja, domínio próprio, portanto, quem alcança a salvação em Cristo Jesus, porquanto não é possível que alguém possa dominar a si mesmo enquanto for dominado pelo pecado, enquanto for servo do pecado.

É por este motivo que não é correta a consideração da temperança como uma virtude humana e natural, como entendem sejam os filósofos, sejam os próprios teólogos católico-romanos, pois é indispensável que, para que alguém tenha temperança, seja, antes de mais nada, liberto do pecado por intermédio de Jesus Cristo.

OBS: Interessante notar que, mesmo entre os filósofos, a ideia de temperança está vinculada a de liberdade.

Sêneca, um dos maiores filósofos romanos, contemporâneo do apóstolo Paulo, afirmou que “a primeira vítima da falta de temperança é a própria liberdade” e Demófilo disse que não é livre quem não tenha obtido domínio sobre si mesmo”.

Não podemos, portanto, confundir a temperança com a mera contenção momentânea, com o controle mental ou com uma capacidade de refreio do instinto, que, aliás, é fruto de hábitos adquiridos em sociedade.

Este tipo de atitude, aliás, é o que tem sido muito procurado nos nossos dias e o que é prometido por toda e qualquer técnica de relaxamento, de equilíbrio e de controle mental que cada vez mais se popularizam na nossa sociedade, muitas das vezes vinculadas a terapias e procedimentos direta ou indiretamente relacionados com filosofias e religiões orientais e/ou com a Nova Era.

– A Bíblia mostra-nos, aliás, que dois dos três casos em que surge o verbo “ ‘aphaq” no Antigo Testamento, são casos em que a momentânea contenção das pessoas, longe de demonstrar um domínio sobre si mesmo, apenas confirmam que a contenção episódica nada tem a ver com a temperança.

Em I Sm.13:12, vemos o caso de Saul, que, após ter se contido durante sete dias, acabou por sacrificar indevidamente, refletindo, assim, que sua contenção não era resultado de um domínio sobre si mesmo, mas tão somente uma resistência carnal que se desvaneceu com a evolução dos acontecimentos à sua volta.

Em Et.5:10, vemos, também, que Hamã se conteve no seu furor contra Mardoqueu não porque dominasse o ódio que tinha contra aquele homem, mas para melhor arquitetar a forma de destruí-lo, revelando, assim, que era, mesmo, escravo do pecado.

OBS: Na psicanálise, dois conceitos existem que podem muito bem ser aplicados aqui, a saber:

Repressão e

Sublimação.

A momentânea contenção das pessoas nada mais é que um exemplo de repressão, que o pai da psicanálise, Sigmund Freud, ilustrou como sendo o ato de expulsar convidados indesejados de uma festa — apenas são excluídos do ambiente.

Lá fora, continuam vivos e ativos, e podem querer retornar disfarçados. Reprimir resolve momentaneamente. Depois o problema retorna.

Já a sublimação, que corresponderia à temperança, resultado do novo nascimento, consiste em transformar o pensamento ou afeto indesejável em um conteúdo aceito socialmente, de modo que possa permanecer na consciência e até receber reconhecimento.

Seria como “educar” o convidado, antes indesejável, para torná-lo um cidadão útil, que realiza atos de bondade reconhecidos pelos demais convidados.(a ilustração foi retirada da entrevista fornecida à Revista Ultimato pela psicanalista Karin Hellen Kepler Wondracek, residente em Porto Alegre, RS e membro do CPPC – Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos)

– A diferença entre esta contenção momentânea e a temperança, ademais, encontra-se muito bem ilustrada pelo apóstolo Paulo na sua comparação do cristão com um atleta, que se encontra em I Co.9:24-27.

Ali o apóstolo mostra que o crente deve ser como os famosos atletas olímpicos, que, diante do objetivo de ganhar o prêmio nas competições esportivas, mantém uma vida de contínua abstenção daquilo que não convém,

uma contínua disciplina para a manutenção da sua forma física, tudo fazendo no sentido de impedir que suas condições não lhe permitam competir e, mais do que competir, não lhe tragam reais chances de vitória.

– O atleta é um exemplo de determinação, de regramento, de disciplina, de vigilância e de equilíbrio e logo percebemos que alguém que, esporadicamente, pratica um esporte, participa de um jogo de qualquer esporte, não pode ser considerado um atleta, por lhe faltar esta continuidade, esta constância, esta disciplina.

Do mesmo modo, quem não age com disciplina a todo instante, quem não subjuga seu corpo e o reduz à servidão, a cada instante, a cada momento, controlando seus instintos, não pode ser considerado um homem temperante, um ramo da videira verdadeira, um autêntico servo do Senhor, mas alguém que, assim como o episódico jogador de uma pelada, vez por outra resolve conter-se.

– A temperança, pois, não é o equilíbrio obtido pela força humana, o controle que se pode adquirir sobre a mente e sobre os seus instintos, como se tem propalado na atualidade, mas o resultado da salvação em Cristo Jesus, o domínio de si mesmo que se adquire quando se restaura a imagem e semelhança de Deus distorcidas com a prática do pecado.

OBS: Sabemos que o crente é um participante dos três ofícios de Cristo.

É profeta, porque lhe cabe anunciar ao mundo o evangelho;

é sacerdote, porque tem livre acesso ao Pai por Cristo Jesus;

é rei, porque reinará com Cristo eternamente.

A realeza do crente, porém, neste mundo, manifesta-se, entre outras coisas, pela sua temperança.

Como diz Leonardo da Vinci,

não se pode possuir maior governo, nem menor, do que o governo de si mesmo”,

bem como Ambrósio,

aquele que submete o seu próprio corpo e governa sua alma, sem deixar-se submergir pelas paixões, é seu próprio senhor: pode ser chamado rei porque é capaz de reger a sua própria pessoa”.

– Obtida a salvação, que vem mediante a fé, o homem passa a ser participante da natureza divina, pois o próprio Deus vem nele habitar, como já temos falado ao longo deste trimestre.

Esta nova natureza passa a imperar no homem e este homem recebe, então, a virtude, que é a disposição de fazer o bem.

É por isso que o apóstolo Pedro afirma que devemos acrescentar à a virtude (II Pe.1:5), ou seja, a excelência moral.

Como diz R.N. Champlin, o Espírito Santo “…’nos influencia’, levando-nos a rejeitar os vícios e a cultivar as virtudes. Ele cria em nós a imagem moral de Cristo.…”(O Novo Testamento interpretado, v.6, com. a I Pe.1:5, p.181).

Após a virtude, Pedro afirma que devemos acrescentar a ciência (“conhecimento” na Versão Almeida Revista e Atualizada e na Nova Versão Internacional), ou seja, a intimidade com Deus, pela meditação na Sua Palavra e por uma vida de oração.

Somente assim poderemos obter o devido conhecimento do Senhor e sabermos qual é a Sua vontade para as nossas vidas.

Surge, então, o instante de adicionarmos a temperança, o domínio próprio, segundo Pedro.

Somente depois de, salvos, estarmos dispostos a fazer o bem e de termos intimidade com o Senhor é que teremos o instante de sermos capazes de dominarmos a nós mesmos.

– Temos de ter consciência de que, ao criar o homem, Deus fez um ser dotado de instintos, ou seja, o homem, como qualquer outro ser criado sobre a face da Terra, é portador de impulso interior que faz um animal executar inconscientemente atos adequados às necessidades de sobrevivência própria, da sua espécie ou da sua prole”.

Ao estabelecer os parâmetros para a natureza humana, Deus não deixou o homem sem instinto.

Pelo contrário, ao lado da ordem para que frutificasse, que, como vimos no início do estudo deste trimestre, é determinação relativa ao aspecto moral e espiritual do homem, também fez considerações a respeito da vida instintiva, determinando que o homem se reproduzisse (“multiplicai”- Gn.1:28), bem assim que se alimentasse (Gn.1:29), disposição, aliás, que era comum também aos animais (Gn.1:30). O instinto é o ponto de contato entre o homem e as demais criaturas sobre a face da Terra.

OBS: “…o ser humano é um ser em conflito entre várias forças que nele habitam, chamadas de pulsões ou instintos.

Estas nascem no corpo e se manifestam no inconsciente; a partir deste, povoam os sonhos, as fantasias e os pensamentos conscientes.

Esses desejos não obedecem à vontade consciente, e muitas vezes lutam contra ela…” (REVISTA ULTIMATO (edição 277) (25 jan.2005). Espiritualidade e sexualidade são complementares e não excludentes. Entrevista com Karin Hellen Kepler Wondracek. http://www.google.com/search?q=cache:a-tjbXrE2KUJ:www.ultimato.com.br/revistas_artigo.asp%3Fartigo%3D307%26sec_secaoMestre%3D370%26edicao%3D277+Freud,+puls%C3%A3o&hl=pt-BR Acesso em 04 fev.2005)

– Como o homem não é apenas matéria, mas também é alma e espírito, este instinto não se revelaria apenas fisicamente, mas também, no aspecto psicológico, existiria enquanto “esquema de comportamento herdado, próprio de uma espécie animal, que pouco varia de um indivíduo para outro ou no tempo e que parece cumprir uma finalidade”, “impulso interior, independente da razão e de considerações de ordem moral, que faz o indivíduo agir.”

Assim, sem que ninguém tenha ensinado, um recém-nascido aprende a mamar e demonstra, através de choro, o desejo de se alimentar, dorme e assim por diante. O instinto faz parte da natureza humana.

OBS: “…A Bíblia fala pouco dos instintos. Mas os instintos são seis:

aquisição,

domínio,

autoproteção,

reprodução,

comunhão e

alimentação.

Os instintos são operados pelo sentimento, intelecto e a vontade da alma, desde a sua sede, a mente.(…). Os instintos entram aqui: na manifestação da alma no mundo.

A alma usa o corpo e o corpo tem seus sentidos (visão, audição, olfato, paladar e tato).

Os instintos estão ligados aos sentidos e submetidos aos três atributos da alma (sentir, volição e entendimento).…”( ROCHA , A. Nelson. 2ª. Pedro da Bíblia Rhema Di Nelson: a graça que a nós foi profetizada, p.53).

– A partir do momento em que o homem passa a ter intimidade com o Senhor, passa a conhecê-l’O, tem condições de melhor administrar os seus instintos, pois estes instintos independem da manifestação do seu intelecto, é algo que nasce independentemente do exercício da razão, mas que pode, e deve, no ser humano, ser controlado para que se satisfaça a vontade do Senhor.

Cada instinto tem uma finalidade, foi criado por Deus com um objetivo e cumpre a cada homem fazer com que seu instinto seja direcionado para este objetivo, para este propósito estabelecido por Deus.

Eis porque, após o conhecimento de Deus, deva o homem acrescer à sua a temperança, o domínio próprio, que nada mais é que o controle do indivíduo sobre os seus instintos.

– Como bem explana Aldery Nelson Rocha,

“…o pecado é errar o alvo, é o desequilíbrio de um ou mais instintos…”(op.cit., p.44) e resulta daí a importância e necessidade de o cristão ser temperante, precisamente porque é através desta qualidade do fruto do Espírito que o salvo irá se precaver de pecar.

“…Santidade é o equilíbrio dos instintos…”(ROCHA, A. Nelson. op.cit., p.44), de forma que a santificação nada mais é que um processo contínuo de controle sobre os instintos para que eles sejam mantidos em equilíbrio, o que somente pode ser feito mediante a operação do Espírito Santo em nossas vidas.

– De pronto, pois, percebemos que, em momento algum, a Bíblia ensina que devamos eliminar os nossos instintos, pois isto seria absolutamente contraditório, já que Deus fez o homem com estes instintos, de forma que a natureza humana, pelo menos enquanto não for objeto da glorificação futura, necessita destes instintos para existir.

A presença e manifestação dos instintos na vida do homem não são, portanto, um erro, nem devem ser consideradas como contrárias à vontade de Deus, desde que os instintos cumpram o objetivo e propósito previstos pelo Senhor.

É por este motivo, aliás, que o apóstolo Paulo foi enfático ao considerar que todo e qualquer ensinamento que tenha por fim determinar a completa abstinência, a eliminação de um instinto é originária do adversário de nossas almas (I Tm.4:1-3).

– Dentro desta linha é que temos de tomar cuidado com o chamado “ascetismo”, doutrina que consiste

“…em negar direitos ao corpo, ou mesmo castigá-lo, como se isto tivesse um efeito positivo em favor da alma, purificando-o de desejos carnais e liberando-a para melhor progredir no caminho da salvação.

A prática inclui o jejum, o celibato, a autoflagelação, a abstenção de alimentos e prazer, a reclusão e a mendicância.…” (CHAMPLIN , R.N. Ascetismo. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.1, p.338).

A ideia de que os instintos são pecaminosos em si e que devem ser eliminados não tem qualquer respaldo bíblico e leva a extremos e práticas que, como já dissemos, tem origem diabólica e não podem ser acolhidos pelos verdadeiros servos de Deus.

– A doutrina bíblica não defende a eliminação dos instintos, mas, sim, que eles estejam sob controle, ou seja, que os instintos sejam utilizados de acordo com o propósito estabelecido por Deus quando os criou, o que trará ao homem a santificação, ou seja, uma vida separada do pecado, que é o desequilíbrio de um ou mais instintos.

– Outro ensinamento que nos vem da Palavra de Deus é que os instintos não se confundem com o pecado.

Muitos, equivocadamente, identificam a manifestação dos instintos com o pecado, esquecendo-se de que o pecado está no desequilíbrio dos instintos e não nos próprios instintos.

Assim, por exemplo, muitos veem no sexo, que nada mais é que o instinto de reprodução, algo que, em si, é pecaminoso e defendem, por exemplo, o celibato como forma de pureza, quando, em verdade, não é o sexo em si que é pecado, mas o descontrole deste instinto, que leva a toda ordem de impureza sexual.

Da mesma forma, comer não é pecado, pois todos necessitam se alimentar para sobreviver, faz parte do instinto de alimentação, mas o descontrole deste instinto, que é gula ou glutonaria, é, sim, um pecado.

II – O SEGREDO DA TEMPERANÇA

– Já identificamos que o segredo de sermos temperantes, de estabelecermos domínio sobre nós próprios é o de conhecermos a vontade de Deus em nossas vidas, ou seja, o conhecimento de Deus.

Como já vimos no texto de II Pe.1:5-7, a temperança é acrescida ao homem após ter ele alcançado a fé (que é a fé salvadora, ou seja, a virtude teologal da fé, conforme vimos na lição sobre a fidelidade), a virtude e o conhecimento.

Somente depois que somos cremos em Cristo e nos dispomos a fazer o bem e nos aproximamos do Senhor por meio da meditação na Sua Palavra e de uma vida de oração é que passaremos a controlar os nossos instintos e alcançar a temperança.

– A temperança, portanto, é resultado de uma perfeita compreensão de nossa posição no universo, de nossa conscientização de que somos mordomos do Senhor, de que estamos neste mundo para dominá-lo, sendo submissos ao Senhor.

Não se trata, portanto, de estabelecermos parâmetros de equilíbrio segundo nossos conceitos ou segundo a nossa vontade, mas de nos submetermos à vontade de Deus.

– É totalmente avesso ao ensino bíblico o conceito de que a temperança advém do alcance de um equilíbrio interno, obtido mediante um equilíbrio das forças negativas e positivas que existem dentro de uma pessoa, mediante a obtenção de uma harmonia com o cosmo ou com a natureza, conceitos que estão muito em voga na atualidade e que tem suas raízes nas filosofias e religiões orientais e que foram convenientemente apropriadas pelo movimento Nova Era.

Dizer que o homem alcança o perfeito equilíbrio através de um rearranjo de seu interior, independentemente da ação divina, é dizer que o homem é deus, que é, aliás, o que está por trás deste tipo de pensamento.

Este mesmo conceito é, também, defendido por certas escolas psicológicas e psicanalíticas, que entendem que o homem alcança o equilíbrio a partir do momento que entende que sua vida é guiada por instintos que são controlados pela própria consciência e por fatores impostos na vida em sociedade, de forma que o autoconhecimento é suficiente para a superação de traumas e o alcance da felicidade e do tão almejado equilíbrio.

– A temperança é o resultado de uma vida de contínuo conhecimento do Senhor e dos Seus propósitos.

Quando passamos a entender o significado dos nossos instintos, porque eles existem e como devem ser utilizados no sentido de propiciarem a glória do nome do Senhor, teremos, indubitavelmente, alcançado o domínio próprio, o domínio de nós mesmos.

– O domínio próprio é uma dádiva que depende de nossa submissão a Deus. O texto sagrado é claro ao dizer que é melhor o que governa o seu espírito do que o que toma uma cidade (Pv.16:32).

Ora, diante desta circunstância, não se vê como possa ser considerado temperante o homem que tenha, com suas próprias forças, obtido um suposto equilíbrio interno.

Muito pelo contrário, pela própria definição do proverbista, vemos que o temperante é alguém dotado de grande poder, tanto que é considerado maior do que um conquistador, que é a imagem mesma do poder do ponto-de-vista humano.

Para alguém ter tamanho poder, só estiver com Aquele que detém todo o poder no céu e na terra. Por isso, o que governa a si próprio só pode ser aquele que está em comunhão com o Senhor, o que se torna possível quando fazemos o que Ele nos manda.

– Quando fazemos o que Cristo nos manda, somos Seus amigos (Jo.15:14) e, como amigos, passamos a saber tudo quanto o Pai revelou ao Senhor Jesus (Jo.15:15) e, em conhecendo a vontade do Pai, temos condição de estabelecer o domínio próprio em nossas vidas, pois passamos a controlar os nossos instintos de forma a fazer com que o nome do Pai seja glorificado pelos homens (Mt.5:16).

Por isso, quando temos dificuldade em controlarmos os nossos instintos, torna-se preciso que nos aproximemos mais do Senhor, que meditemos na Sua Palavra e mantenhamos uma vida de oração, a fim de que apreendamos qual é a Sua vontade. Conhecendo a Deus, certamente adquiriremos a temperança.

III – UMA VIDA EQUILIBRADA

– Se o segredo da temperança é o conhecimento de Deus e se cada instinto do homem tem um propósito definido, logo observamos que, em sendo cumprida a vontade do Senhor em nossas vidas, teremos condição de permitir que os instintos se manifestem e se apresentem conforme o preconizado pelo Criador. É esta a ideia de equilíbrio.

– Equilíbrio vem do latim “aequilibrium”, palavra composta de “aequus”, que significa “igual” e “libra”, que quer dizer “balança”. Equilíbrio é, assim, etimologicamente, “nível igual de balanças”, ou seja, uma situação em que cada fator tem peso igual, tem o devido peso.

Quando estamos em equilíbrio, cada um dos nossos instintos se manifesta dentro do propósito definido por Deus, ocupando exatamente o espaço reservado no plano divino.

O desequilíbrio é toda e qualquer situação em que não se dá o devido peso a um instinto, em que se tem ou excesso ou falta de peso.

– A ideia de equilíbrio, portanto, é o de cada coisa no seu devido peso, ou seja, de se dar a importância correta a cada elemento, a cada componente em nossas vidas.

Esta é a temperança e isto somente ocorrerá se estivermos dirigidos por Deus, que foi Aquele que estabeleceu qual é o devido peso, qual é a importância de cada valor.

– Por isso, entre os gregos, a ideia de moderação estava vinculada ao meio, isto é, a virtude seria sempre encontrada nem no excesso, nem na falta, mas na justa proporção, no meio, como defendeu Aristóteles em seu famoso trabalho “Ética a Nicômaco”.

“…A moderação consiste em manter-se dentro de limites apropriados, evitando-se os extremos. Consiste em ser bem equilibrado.

O termo vem do latim, modus, ‘medida’. Fica implícito que, em qualquer ato ou palavra, o indivíduo deve conservar a medida apropriada – nem demais e nem pouco demais.

O verbo latino moderare significa ‘regular’. Portanto, a moderação é o regulamento apropriado da vida, de tal modo que os extremos sejam evitados.…”( CHAMPLIN, R.N.. Moderação. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.4, p.329).

– A Bíblia Sagrada diz-nos que Deus nos deu o espírito de moderação (II Tm.1:7), bem como que os candidatos a ministro sejam moderados (I Tm.3:3; Tt.1:8), a nos indicar, claramente, que o salvo tem de ter, entre suas características indispensáveis, a moderação.

A moderação é uma das qualidades que indicam maturidade espiritual do indivíduo.

– Os instintos, portanto, devem manifestar-se da forma apropriada, segundo a regra, regra esta que é a estabelecida por Deus, que foi o autor dos instintos humanos.

Utilizando-nos da relação de instintos que nos traz o pastor Aldery Nelson Rocha, podemos, então, verificar como se deve caracterizar a moderação, o equilíbrio, a temperança na vida cristã.

O primeiro instinto é o instinto de aquisição.

Para que possa cumprir o seu papel de mordomo, o homem precisa adquirir bens, ou seja, precisa se apropriar daquilo que existe na natureza para que tenha condições de existir enquanto tal.

O homem tem necessidades materiais que somente serão supridas com a aquisição, com a sujeição de bens para a satisfação destas necessidades.

Assim, é preciso que o homem tenha um local para morar, roupas para se vestir, um meio para obter alimentos, condições para angariar informações e com elas alimentar o seu intelecto e ter como fazer uso da razão que lhe deu o Criador.

Este instinto fica evidenciado no fato de Deus ter formado o homem mas, de imediato, ter plantado um jardim, um local onde pusesse o homem, bem como pudesse o homem lavrar, pensar e adorar ao Senhor.

– Este instinto de aquisição, porém, não pode ser exercido senão dentro dos ditames estabelecidos pelo Senhor, quais sejam, o homem deve adquirir o suficiente para a sua própria subsistência, deve reconhecer que o que adquire o faz segundo o favor divino, que é o Senhor de todas as coisas, bem como deve dominar sobre o instinto da aquisição e não ser por ele dominado.

O amor do dinheiro, raiz de toda a espécie de males(I Tm.6:10), a avareza, que é idolatria (Cl.3:5), bem como a prodigalidade (Lc.15:13,14) são distorções do propósito divino estabelecido para este instinto e, portanto, atitudes intemperantes, que não podem existir na vida do salvo.

– A propósito, um dos significados de temperança é “hábito de poupar, de economizar; parcimônia”, indicando que a pessoa temperante, moderada não é o “pão-duro”, o avarento, aquele que idolatra o dinheiro e, por isso, passa necessidade mas não o gasta, mas também não é o “gastador”, o perdulário, aquele que gasta mais o que tem, que vive endividado, que não resiste aos apelos do “marketing” e envereda pelo caminho do consumismo desenfreado, trazendo grandes problemas e sofrimentos para si, para os seus familiares e para a sociedade em geral.

Aliás, este consumismo, lamentavelmente, tem atingido a vida de muitos crentes que, por não vigiarem, acabam descuidando na vida espiritual. Há muitos que acham que este é um aspecto irrelevante para a vida espiritual, mas estão muito enganados.

O verdadeiro salvo, o ramo da videira verdadeira, frutifica e seu fruto contém temperança, o equilíbrio, inclusive nas suas contas, seja no banco, seja nos estabelecimentos comerciais que frequenta.

O segundo instinto é o instinto do domínio.

O homem foi feito para dominar a criação sobre a face da Terra e, naturalmente, é do seu instinto o de exercer este papel de dominação.

Entretanto, este instinto tem em vista a criação sobre a face da Terra, os demais seres existentes no planeta, jamais um sentimento de superioridade em relação a outro ser humano e muito menos em relação a Deus.

O instinto de domínio do homem é o motor de todo o progresso tecnológico e o responsável pelo uso de nossa razão, mas nunca pode ser usado como veículo de uma tentativa inútil e descabida de domínio sobre o semelhante ou de rebeldia contra Deus.

– O homem temperante é aquele que reconhece no seu semelhante um igual, um próximo, que deve amar como a si mesmo, bem como é submisso ao Senhor, a quem obedece.

A moderação faz com que o homem jamais agrida, física ou moralmente, o próximo nem tampouco se rebele contra Deus.

Este instinto de domínio é que foi astutamente posto em descontrole na tentação dos nossos primeiros pais. Como afirma o apóstolo João, o mundo apresenta a “soberba da vida”, que nada mais é que a proposta de autossuficiência, de rebelião contra Deus.

Nossos primeiros pais pecaram porque desejaram ser iguais a Deus, que nada mais é que o descontrole deste instinto do domínio.

Muitos também têm preferido o ilusório poder oferecido pelo mundo a ser submissos e obedientes a Deus.

– O salvo é moderado, é temperado e, em assim sendo, não se deixa levar pela ilusão do poder humano, nem se rebela contra aquilo que foi legitimamente instituído pelo Senhor.

Confrontado pelo questionamento dos fariseus a respeito do pagamento do tributo a César, Jesus lhes respondeu que se deveria dar a César o que era de César e a Deus o que era de Deus (Mt.22:21).

Esta resposta mostra-nos o que é a temperança. Jesus não se rebelou contra as autoridades constituídas, mas também mostrou claramente qual era o seu limite.

Devemos ser conscientes de que temos uma posição estatuída pelo Senhor e que, quanto maior a posição, maiores serão as responsabilidades, pois, entre os crentes, o poder deve ser entendido como serviço, não como motivo de vanglória.

Ter plena consciência da parcela de responsabilidade que nos é dada por Deus e não querer ir além ou ficar aquém daquilo que nos for concedido. Isto é agir com temperança e manter sob controle o instinto do domínio.

O terceiro instinto é o instinto da autoproteção,

também conhecido como instinto da autopreservação ou de conservação, “impulso interior que leva cada indivíduo de uma espécie a executar ações para se manter vivo”.

O homem não foi feito para morrer e, por isso, sempre age instintivamente para se conservar, para se manter vivo.

Por isso, quando alguém nos ataca com uma arma, a tendência sempre é a de nos defendermos seja com gestos, seja tomando de algo que esteja perto de nós para nos proteger, daí porque os advogados costumarem dizer que a “legítima defesa” é uma ação da própria natureza, que não pode ser senão reconhecida pelas legislações humanas.

Foi com base no reconhecimento deste instinto que Moisés, por exemplo, aceitou a justificativa de Arão e seus filhos Eleazar e Itamar por não terem comido o animal sacrificado, como determinado pela lei, já que agiram eles deste modo num legítimo temor de serem mortos pelo Senhor, assim como tinham sido Nadabe e Abiú (Lv.10:19,20).

– Entretanto, também neste ponto, a temperança é indispensável, porquanto se pode tornar o instinto da autoproteção em agressão, em violência ilegítima, em ataque, em vingança.

Na ciência do direito, a legítima defesa é considerada como a reação moderada, necessária a uma agressão injusta através de meios adequados, ou seja, nada além do suficiente para repelir a agressão injusta.

Tudo o que passar disto, dizem os juristas, já é excesso de legítima defesa e, em havendo excesso, a pessoa será punida pelo excesso, pois o excesso não está abrangido pela tolerância da lei.

– Se assim é entre os homens, que são falhos e pecadores, que diremos em relação a Deus? Nada além daquilo que for suficiente para nos conservar vivos deve ser praticado pelo ser humano.

Não se pode partir para a agressão, seja física, seja verbal, como retaliação por uma atitude ofensiva, sob a justificativa de que “se estava defendendo”, o que é muito comum em contendas de palavras (para não dizer as brigas propriamente ditas…).

Quando acusados, injuriados, podemos, sim, responder, não é obrigatório que fiquemos calados, pois o próprio Cristo respondeu às palavras que Lhe foram proferidas (Lc.22:67-71), tendo emudecido apenas quando do Seu julgamento final (como se vê em Lc.23:5-25, até para que se cumprissem as Escrituras – Is.53:7).

Estas respostas, entretanto, devem ser apenas com o objetivo de repelir a agressão injusta, jamais para agredir, jamais para se vingar. Cristo, quando injuriado, não injuriava; quando padecia, não ameaçava (I Pe.2:23), até porque a vingança pertence única e exclusivamente ao Senhor (Rm.12:19).

– Mas o instinto de autoproteção não se revela apenas no que concerne à defesa de agressões de terceiros contra a nossa vida.

Este instinto diz respeito a tudo quanto possa ameaçar a nossa sobrevivência, a medidas que devem e precisam ser tomadas para a garantia da nossa vida.

Dentro deste espectro, temos que também é um descontrole a este instinto as medidas que dizem respeito à autodestruição do homem, à tomada de providências e condutas que representam um deliberado prejuízo à vida humana.

– Por incrível que possa parecer, o homem, que é feito para viver, acaba sendo levado, pelo pecado que o domina, a um tal descontrole dos instintos, que são tomadas atitudes que têm como objetivo exatamente o contrário da autoproteção.

O homem passa a se agredir, a buscar, ele próprio, o próprio cabo de sua vida.

Temos, então, aqui a falta de temperança no que concerne a vícios como o uso de substâncias entorpecentes, sejam as legalmente permitidas, como o álcool e o tabaco, sejam as legalmente proibidas, como a maconha, a cocaína, o ópio e outras drogas.

A busca insana do prazer e de sensações fortes ou a fuga da realidade levam as pessoas a um tal descontrole que não só as leva à destruição, como também a muitos outros que são envolvidos.

Uma luta eficaz para a recuperação destes envolvidos não envolve apenas procedimentos químicos e psicológicos, mas uma ação espiritual libertadora, que só Jesus poderá fornecer, pois, como vimos, este descontrole instintivo nada mais é que a falta da salvação na vida do homem.

O quarto instinto é o instinto de reprodução,

apresentado por Deus logo após o princípio da frutificação, como se vê em Gn.1:28.

O homem foi feito um ser sexuado e, como tal, para se reproduzir, necessita estabelecer um relacionamento íntimo com pessoa do sexo oposto, sem o que a espécie não se preservará.

O sexo, portanto, nada mais é que um instinto criado por Deus e que, portanto, nada tem de errado.

No entanto, este instinto deve seguir o regramento divino, que se encontra em Gn.2:24 e I Co.7:2-4, ou seja, o sexo deve ser praticado no casamento, entre o marido e a mulher, de forma natural, ou seja, com o objetivo de promover a procriação ou de modo potencialmente apto a promovê-la.

OBS: “…Para Pfister [ Oskar Pfister, psicanalista e pastor suíço1873-1956, que se correspondeu com Sigmund Freud, o pai da psicanálise, entre 1909 e 1939, observação nossa], há apenas uma energia básica: a força vital, que abarca tanto a sexualidade estrita quanto as mais altas produções culturais, éticas e espirituais.

A satisfação seria alcançada na vivência de realizações humanas desde o grau da toupeira (sexualidade no sentido estrito) ao da águia (elevação ética e espiritual); com uma ressalva, bem no espírito da Reforma: “a águia não pode esquecer que também pertence à terra”.

Pfister compara a sexualidade direta com o fruto silvestre, e a sexualidade sublimada com o fruto cultivado.

Há conexão, há parentesco entre ambos, e, utilizando a linguagem ecológica, há riscos se o primeiro for eliminado.…” (REVISTA ULTIMATO (edição 277) (25 jan.2005). Espiritualidade e sexualidade são complementares e não excludentes. Entrevista com Karin Hellen Kepler Wondracek. http://www.google.com/search?q=cache:a-tjbXrE2KUJ:www.ultimato.com.br/revistas_artigo.asp%3Fartigo%3D307%26sec_secaoMestre%3D370%26edicao%3D277+Freud,+puls%C3%A3o&hl=pt-BR Acesso em 04 fev.2005)

– Surge aqui, então, a questão da castidade, já que “castidade” é “abstinência completa dos prazeres do amor, abstenção de prazeres carnais e de tudo que a eles se refere”, qualidade que é muitas vezes confundida com a temperança, mormente entre os católico-romanos que, diante da regra do celibato clerical (a proibição de os padres se casarem), procuram enaltecer este que é apenas um dos aspectos da temperança.

A temperança não está na abstinência completa da prática do sexo, mas na sua prática de acordo com os ditames bíblicos, ou seja, no casamento, entre marido e mulher.

A castidade é algo que deva ser buscado pelo cristão, é algo que deve estar presente no salvo, desde que não confundida a abstinência como a eliminação do instinto de reprodução.

OBS: “…A castidade é uma perfeição da nossa alma pela qual conseguimos viver segundo a pureza do nosso estado de vida, da nossa condição.

Como sabemos que o homem só pode se unir à uma mulher se receber o sacramento do Matrimônio, a virtude da castidade nos obriga a fugir de tudo aquilo que poderia nos levar aos atos reservados às pessoas casadas. O que são estas coisas?

As más companhias, as conversas imorais, as roupas indecentes, os namoros precoces e ousados, os filmes, revistas, novelas etc. que ensinam e mostram a impureza etc.

Devemos ter um grande amor pela pureza e nunca violá-la. O corpo é o templo de Deus, que só será entregue a uma união se ela for abençoada por Deus no seu santo sacramento.…” (Virtudes anexas. http://www.google.com/search?q=cache:eaztcrUoQ0QJ:www.capela.org.br/Catecismo/anexas.htm+temperan%C3%A7a,+castidade&hl=pt-BR Acesso em 03 fev.2005).

Retirada a errônea alusão ao matrimônio como sacramento, o texto ora transcrito apresenta argumento biblicamente respaldado.

– “…. A castidade significa a integração perfeita da sexualidade na pessoa e daí a unidade interior do homem no seu ser corporal e espiritual.(…). A temperança submete o instinto à razão e conduz à castidade.

Trata-se da continência ou governo de si mesmo. É uma luta de toda a vida. É um esforço pessoal contínuo na busca da santidade.

A pudicícia é a guarda da castidade e é um sentimento de vergonha, de mal-estar, gerado pelo que pode ferir a decência, a honestidade ou a modéstia; pejo diante do que fere o decoro.

Portanto, trata-se não de negar, mas de regular a sexualidade. São aspectos basilares o senso da desonra, e o senso do pudor(…).

Partes potenciais da temperança e castidade são a decência no porte e nos gestos; o equilíbrio nas diversões, que não devem ser torpes; a modéstia nas vestes e nos enfeites.

O sexto mandamento proíbe todo pecado de luxúria,

de busca de prazeres carnais fora do matrimônio; os pecados internos, a saber, maus pensamentos, maus desejos (Mt 15,19. 27-28).

Além disto, proíbe todos os atos impudicos: olhares, beijos, carícias, conversas que excitam e levam ao pecado, bem como as leituras inconvenientes, os espetáculos impuros, como determinadas danças, a concubinagem, o estupro, o incesto, a masturbação, o homossexualismo, a sodomia, a bestialidade, as perversões sexuais, a luxúria em geral, ou seja, desejo do prazer, a fornicação, isto é, a união carnal entre sexos opostos, a pornografia, a prostituição. 

Os meios espirituais são a oração; viver na presença de Deus; fuga das ocasiões de pecado(…).

Deste modo se pratica a castidade que é o esplendor das almas fortes. A sexualidade afeta todos os aspectos da pessoa humana na unidade de seu corpo e de sua alma e, por isto mesmo, não pode ser supressa, mas tem que ser governada com a graça divina.…” (CARVALHO, Cônego José Geraldo Vidigal de. (12 dez.2003).Sexto mandamento da lei de Deus. http://www.google.com/search?q=cache:kQ9vIcmq2ucJ:www.catolicanet.com.br/noticias/noticias_integra.asp%3Fcod%3D1%26codigo_noticias%3D28392%26edtoria%3D1+instinto,+temperan%C3%A7a&hl=pt-BR Acesso em 01 fev.2005).

OBS: “…Lutero, Freud e Pfister concordam neste ponto — a sexualidade é inerente à natureza humana. Para Lutero, é dádiva de Deus.

Para Freud, a pulsão sexual é originária, tal qual a fome, e por isso não pode ser suprimida, a não ser às custas de muita repressão.

A religião seria um consolo produzido pela humanidade para fazer frente ao desamparo perante as forças da natureza, e por isso insuficiente para suprimir a “fome” da sexualidade.

Para Pfister, religião e sexualidade são duas esferas de atuação da força vital, e por isso ambas têm seu lugar. A religião não substitui a sexualidade, mas a ela se integra.…” (REVISTA ULTIMATO (edição 277) (25 jan.2005). Espiritualidade e sexualidade são complementares e não excludentes. Entrevista com Karin Hellen Kepler Wondracek. http://www.google.com/search?q=cache:a-tjbXrE2KUJ:www.ultimato.com.br/revistas_artigo.asp%3Fartigo%3D307%26sec_secaoMestre%3D370%26edicao%3D277+Freud,+puls%C3%A3o&hl=pt-BR Acesso em 04 fev.2005)

– Bem se vê, portanto, que a castidade envolve, também, todo o cuidado no sentido de se evitarem situações que possam levar a uma incontinência sexual, a começar das más conversações, que, como diz o texto sagrado, corrompem os bons costumes (I Co.15:33).

A pureza sexual é um dos elementos mais caros do cristão e uma das características que mais revelará, na atualidade, a glória de Deus, ante a perversão sexual crescente, que já antecipa os dias tenebrosos da Grande Tribulação.

– A importância da castidade é tanta que alguns manuscritos do Novo Testamento apresentam-no como uma das qualidades do próprio fruto do Espírito.

Com efeito, na Vulgata Latina, que é a versão oficial da Igreja Romana, é adotada esta redação de Gl.5:22,23, que inclui a castidade como uma das qualidades do fruto do Espírito, como vemos, por exemplo, na Versão Antonio Pereira de Figueiredo, “in verbis”:

Mas o fruto do Espírito é: a caridade, o gozo, a paz, a paciência, a benignidade, a bondade, a longanimidade, a mansidão, a fidelidade, a modéstia, a continência, a castidade, contra estas coisas não há lei”.

O quinto instinto é o instinto da comunhão,

que é aquele que nos leva a viver em sociedade, a nos relacionar com o próximo, a não vivermos isolados.

É a natureza gregária do homem, manifestada na Bíblia pelo próprio Deus que afirmou que não era bom que o homem estivesse só (Gn.2:18).

Por meio deste instinto, o homem busca a companhia de outros, bem como está pronto a ser socializado.

Também é este instinto que nos faz querer estabelecer um relacionamento com o nosso Criador, que dá nascimento à religiosidade humana.

– A temperança manifesta-se aqui nos dois grandes mandamentos que resumem toda a lei divina, assim como mostrado pelo Senhor Jesus: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.

A partir do momento que sabemos que devemos nos submeter a Deus e a amar o próximo como a nós mesmos, passamos a ser cuidadosos no trato com os semelhantes, com os demais seres humanos e visamos não só lhes agradar como também a Deus.

– Neste ponto, a temperança mantém contacto estreito com a humildade, que é apontada pelos teólogos e filósofos morais como uma virtude anexa, decorrente da temperança, bem como a modéstia, que vimos serem, ambas, aspectos da mansidão, estudada na lição anterior.

Para que alguém seja humilde, modesto, manso, é mister que seja comedido, ou seja, que saiba exatamente qual é o seu lugar no universo e que lugar ocupam Deus e o próximo.

– Por isso, quando nos comunicamos, ou seja, quando tornamos comuns as nossas ações próprias, devemos ser moderados no nosso falar com o semelhante.

Assim como nossas palavras devem ser puras, igualmente não devem ferir o próximo. Jesus equiparou ao homicida aquele que ofende o próximo, chamando-o de louco ou tolo, que é o significado da palavra “raca” (Mt.5:22).

A Palavra de Deus manda que nossas palavras sejam sempre agradáveis, temperadas com sal (Cl.4:6), ou seja, dirigidas pelo Espírito Santo, porquanto o sal representa a nossa natureza divina, pois somos o sal da terra (Mt.5:13).

Temperada com sal, a palavra não promoverá senão a cura de uma ferida, a conservação espiritual de alguém, sede de Deus e sabor ao ouvinte. Será que nossas palavras têm sido temperadas com sal?

As palavras do salvo, que tem entre suas qualidades a temperança, têm de ter estas características.

O homem moderado e temperante, nos seus relacionamentos, promove a comunhão, estimula e incentiva o convívio sadio entre as pessoas, é um promotor de concórdia e de união no grupo social onde se encontra.

O homem temperante é sempre um fator de aglutinação, de reunião de esforços, um poderoso elemento de promoção social.

O homem temperante ajunta, não espalha, o homem temperante reduz os atritos e cria um ambiente propício a que o Senhor abençoe e conceda a vida (Sl.133:3).

A moderação e a cautela no tratamento com o próximo e na comunicação são elementos poderosos para a construção de uma sociedade mais justa e solidária.

Temos tido este comportamento ou somos os primeiros a promover a divisão e o sectarismo no seio da sociedade?

Muitos confundem a santidade, que é a separação do pecado, com o sectarismo, que é a separação da sociedade.

Estamos no mundo, como reconheceu Jesus, embora não sejamos do mundo e nosso comportamento deve ser tal que nossa moderação leve os homens a Cristo e não às intermináveis pelejas e dissensões.

Como afirma o pastor Osmar José da Silva, “…controle emocional evita desequilíbrio de relacionamento e promove a união e a paz. Sem equilíbrio, estaremos sempre às margens do perigo.…”(Lições bíblicas dinâmicas, v.3, p.100).

OBS: Não é por outro motivo que o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (que foi adotado pelo Brasil e tem força de lei em nosso país) proíbe, em seu artigo 20, a propaganda em favor da guerra bem como a apologia ao ódio nacional, racial ou religioso, que constitua incitamento à discriminação, à hostilidade ou à violência.

Se os homens, falhos e pecadores, fazem questão de proibir este tipo de comunicação, como podemos, como povo de Deus, permitir tais condutas ou, pior ainda, praticá-las?

– Neste passo, aliás, vemos que a presença da intemperança ou da incontinência está firmemente relacionada com a desintegração da sociedade e, de modo bem peculiar, da base da sociedade, que é a família.

A falta de temperança é um dos principais fatores de desagregação da família, de destruição desta instituição básica.

A incontinência, mormente no aspecto sexual, tem sido um dos principais, senão o principal fator de destruição dos lares e de obstáculo à formação de famílias sadias na nossa sociedade.

Adultérios, prostituição e homossexualismo têm sido fatores que, a um só tempo, representam o descontrole não só do instinto da reprodução, como também do instinto da comunhão.

Como a Palavra de Deus nos mostra, a apologia ao homossexualismo e a sua crescente adoção é resultado do abandono do Senhor a estas pessoas que, entregues a suas paixões infames, promovem esta hedionda prática, que tanto tem enfraquecido a sociedade (Rm.1:26,28).

OBS: “…O homossexualismo é um desequilíbrio do instinto de reprodução e de comunhão, logo é pecado.…”(ROCHA, A. Nelson. 2ª Pedro da Bíblia Rhema Di Nelson: a graça que a nós foi profetizada, p.44).

O sexto e último instinto é o instinto de alimentação,

pelo qual o homem é levado a ingerir alimentos a fim de que possa sobreviver.

A alimentação é tão necessária ao homem que o próprio Deus, logo após criar o homem, já determinou que a erva verde fosse destinada para seu alimento (Gn.1:29) e se preocupou em que houvesse árvores comestíveis no jardim do Éden (Gn.2:16).

Após o dilúvio, o Senhor tornou a demonstrar Seu cuidado para com este instinto do ser humano, inclusive alargando o cardápio para a inclusão da carne (Gn.9:3,4).

Por isso, um outro significado para temperança é “sobriedade no consumo de alimentos e/ou bebidas”, “sobriedade no comer e no beber”.

– A temperança no que concerne a este instinto está no fato de que devemos nos alimentar (comer e beber) para viver e não viver para comer ou beber.

A falta de temperança neste aspecto caracteriza a gula ou glutonaria, como também a embriaguez, sendo também reconhecida nas Escrituras com a expressão “apetite desordenado” (Cl.3:5), expressão, porém, que pode se referir, também, a outros aspectos da falta de temperança, tais como a incontinência sexual.

OBS: “…Na sua bondade eterna, Deus colocou o prazer na comida, a fim de que a atividade necessária da alimentação não fosse sem sabor e desagradável.

No entanto, não podemos buscar o alimento apenas pelo prazer; aí está a causa da gula.

Gula é comer além do necessário para se alimentar.

Tudo o que comemos, depois que já estamos satisfeitos, é uma forma de gula, que pode ser pequena ou grande.

Para alguns, o prazer do comer, passou a ser um fim em si mesmo, e tem nisto a sua satisfação.

Se frustram quando a refeição não é suculenta e variada.

Escrevendo aos filipenses, São Paulo se refere àqueles cujo ´deus é o ventre´ (Fil 3,19); isto é o alimento.…” (AQUINO, Felipe de. Gula e temperança. http://www.google.com/search?q=cache:qE6WPjjYun4J:www.cleofas.com.br/virtual/texto.php%3Fdoc%3Despiritualidade%26id%3D173+instinto,+temperan%C3%A7a&hl=pt-BR Acesso em 01 fev.2005)

– A Palavra de Deus condena, em várias passagens, a gula ou glutonaria.

Jesus diz que a glutonaria é suficiente para nos desviar da vigilância e fazer com que sejamos surpreendidos no arrebatamento da Igreja (Lc.21:34) e, no sermão do monte, afirmou que a vida é mais do que o mantimento (Mt.6:25), demonstrando que não podemos nos guiar pelo prazer de comer.

Paulo afirma que a glutonaria é atitude própria dos ímpios e que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus (Rm.13:13 e Gl.5:21), no que é seguido por Pedro, que faz questão de lembrar que tal comportamento é característico de quem ainda não tem salvação (I Pe.4:3).

Salomão, por sua vez, determina que devemos pôr uma faca à nossa garganta quando nos assentamos a comer (Pv.23:1).

– É importante observar que, em momento algum, a Bíblia defende que a comida seja um obstáculo a uma vida de comunhão com Deus.

Verdade é que o jejum é uma prática recomendada pela Palavra de Deus e que significa uma maior humilhação diante do Senhor e que produz maior intimidade e maior poder espiritual.

Todavia, não é por ser uma abstinência alimentar que o jejum tem estas propriedades, como se o alimento, em si, fosse um obstáculo a uma maior espiritualidade, mas pela atitude de humilhação com a qual está relacionado.

As Escrituras jamais desconsideram o instinto de alimentação, mas, pelo contrário, dão-lhe o devido lugar, já que se trata de criação divina.

Vemos o cuidado divino para com este instinto em diversas passagens bíblicas, entre as quais se destacam o cuidado em fornecer o maná ao povo de Israel no deserto, o cuidado de Cristo em saciar a multidão faminta que O ouvia nas duas multiplicações de pães e,

por fim, na própria defesa da atitude de os discípulos terem se alimentado de espigas de milho em pleno sábado e o 

Senhor ter dado maior valor à alimentação que à guarda cerimonial, inclusive legitimando a conduta similar tomada por Abiatar em relação a Davi e o que acompanhavam, quando se alimentou dos pães da proposição.

Comer e beber não é pecado, nem mesmo ter uma mesa farta para celebração e desfrute daquilo que legitimamente se obteve (Ec.5:18,19; 6:2 e 8:15).

O que a Bíblia não autoriza é o desperdício (lembremo-nos de que Jesus mandou recolher o que sobrou da multiplicação dos pães), o comer por puro prazer e extravagância, o alimentar-se sem qualquer necessidade.

Como ensinava Agostinho de Hipona, “…ao passar do mal da indigência ao contentamento da saciedade, nesse mesmo momento a concupiscência me arma a sua cilada.

A mesma passagem é prazer e não há outro caminho senão que nos obriga a necessidade.

E, como o comer e beber são condições para a saúde, acompanha-o o prazer, perigoso escudeiro, que muitas vezes toma a dianteira para aproveitar-se do que eu faço ou quero fazer somente para a minha saúde.

A medida não é a mesma em ambos os casos, pois o que basta para a saúde, para o prazer é escasso.

E muitas vezes não conseguimos discernir quem reclama aquela atenção: se o cuidado obrigatório do corpo ou a hipócrita satisfação do prazer…” (apud AQUINO, Felipe de, end.cit.).

Num mundo em que sete pessoas morrem de fome a cada minuto, desperdiçar alimento é, no mínimo, uma iniquidade.

OBS: Neste ponto, aliás, observemos que a cultura brasileira é, infelizmente, a de falta de comedimento na alimentação, uma péssima mordomia pela fartura com que o Senhor abençoou o nosso país, sem dúvida, um dos celeiros do mundo.

Tivemos conhecimento de um testemunho que bem ilustra esta situação.

Cabe a nós, servos do Senhor, darmos exemplo de temperança nesta matéria, contribuindo, assim, para que a fome e a obesidade, males que assolam o mundo e que são decorrências diretas da falta de temperança, sejam minoradas.

– A temperança, na alimentação, não se circunscreve, porém, como muitos afirmam, apenas à gula.

Também envolve a temperança a questão relativa à saúde, pois, como se sabe, a maior das epidemias da atualidade é a obesidade, mal que, como registrou recentemente pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), assola mais de um terço de nossa população, atingindo indiferentemente tanto ricos quanto pobres, percentagem, aliás, que está dentro dos parâmetros internacionais.

Temos aqui um descontrole tanto do instinto de alimentação quanto do instinto de autoproteção.

É preciso que a alimentação seja equilibrada, que, para usar de expressão de Agostinho, ingiramos os alimentos como se tratassem de remédios, usando de uma dieta balanceada e correta, a fim de que não venhamos a sofrer deste mal, que é resultado exclusivo da falta de temperança.

OBS:…Recentemente, o Ministério da Saúde divulgou um pesquisa que revela que quase metade da população brasileira está acima do peso.

Segundo o estudo, 42,7% da população estava acima do peso no ano de 2006. Em 2011, esse número passou para 48,5%.

O levantamento é da Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), e os dados foram coletados em 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal.…” (Números da obesidade no Brasil. Disponível em: http://www.endocrino.org.br/numeros-da-obesidade-no-brasil/ Acesso em 21 nov. 2016).

– Com respeito à embriaguez, temos de ter consciência de que a regra bíblica recomenda a abstenção de tudo aquilo que venha a nos dominar.

O homem temperante é aquele que tem domínio de si mesmo, que tem domínio próprio.

Tudo é lícito ao salvo, mas nem tudo lhe é conveniente. O que não convém ao salvo?

Tudo aquilo que pode lhe dominar (cfr. I Co.6:12). Destarte, o consumo do álcool é algo que não convém ao cristão, vez que, potencialmente, o álcool, seja em que concentração estiver, seja em que forma estiver, é capaz de viciar.

A abstinência total, portanto, é a atitude recomendável, até porque, em termos de cultura pátria, uma conduta diversa representaria escândalo para os fracos, o que é, sem dúvida, atitude pecaminosa (Rm.14; I Co.8:9).

– Relacionado ao instinto de alimentação e de autoproteção, também, temos a questão do tempo, pois, como é sabido, tem o homem o que se denomina de “relógio biológico”, “…mecanismos vitais(…) chamados de ritmos circadianos (do latim circa diem, ou ‘cerca de um dia’) (…) [que] ocorrem em todos os seres vivos…”(KOSTMAN, Ariel. A hora do remédio. Veja, ano 38, n.2, 12 jan.2005, p.90).

Assim sendo, uma boa distribuição das atividades conforme o tempo faz com que venhamos, entre outras coisas, a ter uma boa saúde, agindo em conformidade com o instinto de autoproteção.

Mas, também, uma boa administração do tempo permite-nos que tenhamos o domínio sobre as nossas atividades, podendo, assim, estabelecer prioridades em nossa vida, cumprindo, pois, a missão que nos foi confiada pelo Senhor.

A má administração do tempo, na atualidade, tem sido um dos principais fatores não só de doenças e enfermidades, mas de prejuízo ao nosso relacionamento com Deus.

Não nos esqueçamos de que, na viração do dia, nossos pais tinham um tempo para se encontrar com o Senhor (Gn.3:8) e precisamos sempre ter este período diário na nossa vida devocional.

IV – UMA VIDA SANTA

– A temperança, como já dissemos antes, permite que alcancemos o equilíbrio de nossos instintos e isto nada mais é que santidade.

Não há como termos uma vida santa se esta não for permeada da temperança, do domínio próprio.

Se não nos dominarmos a nós mesmos, o que só é possível mediante a ação do Espírito Santo em nossas vidas, seremos dominados pelo pecado. O pecado, então, habitará em nós o que é exatamente o contrário da santidade.

OBS: “…No decorrer dos estudos sobre características e virtudes do cristão, concluímos que todas as qualidades vivenciadas pelos crentes convertidos acabam por precisar desta virtude, a moderação, o equilíbrio, pois todos os extremos acabam por se tornarem prejudiciais, levando o crente à descrença e a uma vida de fracasso ou ao fanatismo que acaba também em fracasso.…” (SILVA, Osmar José da. Lições bíblicas dinâmicas, v.3, p.100).

– A vida santa exige a temperança e a temperança impõe a moderação, o equilíbrio, a castidade.

A temperança impõe uma contínua atitude de equilíbrio e de moderação, daí porque ser conhecida também como “continência”, que é “comportamento muito contido; moderação nos gestos, palavras e atos; autodomínio, comedimento.”

A expressão “continência”, aliás, é bem elucidativa, pois também é o nome pelo qual se expressa a saudação militar, em que o subordinado hierárquico toma a iniciativa de saudar o superior.

Isto nos mostra, em figura, que, ao viver em continência, em temperança, saudamos, reconhecemos o senhorio de nosso Comandante, o Senhor Jesus, em nossas vidas.

– Quando Jesus nos informa que, para segui-l’O, devemos negar a nós mesmos e tomar a nossa cruz, está, entre outras coisas, mostrando que devemos ter a continência, ou seja, “o império sobre si mesmo, faculdade de se conter, moderação, comedimento, discrição”.

Faz-se preciso que saibamos controlar o nosso “eu”, a nossa velha natureza, a nossa vontade, e “controlar” nada mais é que “examinar minuciosamente segundo determinadas normas ou expectativas”.

A palavra “controle” vem do latim medieval “contra rotulus” (que deu origem ao francês “controle”), que significa um “registro em duplicata”, um outro “registro”, um outro “rolo de escritos”.

Ora, este exame minucioso é, portanto, uma característica da temperança, é a investigação a cada instante de nossos atos diante do que prescreve a vontade do Senhor para as nossas vidas.

O justo, ao contrário do ímpio, sempre investiga (Sl.10:4).

– A temperança, portanto, envolve três atitudes importantíssimas para a manutenção de uma vida santa, ou seja, de uma vida separada do pecado, a saber:

a) a previsão, a prevenção dos atos futuros – o homem temperante sempre analisa o que está para fazer diante da vontade do Senhor.

É alguém que é atento ao que está a fazer e o que isto significará no seu relacionamento com Deus. Esta atitude é o que a Bíblia chama de prudência e de vigilância.

A prudência, como ensinam os lexicógrafos, é “a virtude que faz prever e procura evitar as inconveniências e os perigos”, é a cautela, a prevenção.

É um dos aspectos da temperança. Jesus recomenda que sejamos prudentes como as serpentes (Mt.10:16) e o apóstolo Paulo nos informa que a graça de Deus abunda em nós em toda a sabedoria e prudência (Ef.1:8).

O salvo é um homem comedido e, portanto, cauteloso em relação ao futuro.

b) o comedimento e autocontrole no presente – o homem temperante, como vimos, é alguém que, a cada instante, comete ações comedidas, sóbrias, continentes, mostrando, a cada gesto, o senhorio de Cristo na sua vida. Administra os instintos, separa-se do pecado a cada momento.

A Bíblia diz que quem é santo deve se santificar ainda (Ap.22:11).

c) autoexame e vigilância constantes – o homem temperante, sem cessar, faz um autoexame dos atos a praticar e dos que está praticando, bem como dos que praticou, a fim de que mantenha o controle sobre os seus instintos.

Como vimos o controle é o exame minucioso, uma duplicata das ações, que nos permite verificar como se encontra a nossa comunhão com o Senhor.

Por isso, manda Paulo que o homem se examine a si mesmo ao participar da ceia do Senhor (I Co.11:28) e Jesus determina, ao falar do sermão escatológico, que devemos, sobretudo, vigiar (Mc.13:37).

A vigilância só é possível se houver a sobriedade, como nos deixa claro o apóstolo Pedro, mais de uma vez (I Pe.4:7, 5:8). Só há autoexame e vigilância quando temos temperança.

V – A TEMPERANÇA E A BEM-AVENTURANÇA DOS QUE TÊM FOME E SEDE DE JUSTIÇA

– A temperança encontra-se, também, na relação das bem-aventuranças que abre o sermão do monte.

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” (Mt.5:6, Lc.6:21a). Ser moderado é saber aguardar o momento oportuno e correto para suprir as suas necessidades.

É ter consciência de que Deus está no controle de todas as coisas e que o mais importante é controlar a sua ansiedade, é ter domínio sobre si mesmo e confiar que Deus trará a solução.

A temperança é muito similar à paciência, mas se a paciência representa uma capacidade de suportar uma adversidade, a temperança é uma qualidade que permite o autocontrole, ou seja, havendo, ou não,

adversidade, o temperante sabe se controlar, pois muitas vezes o autocontrole é necessário nos tempos de bonança, pois as benesses podem levar, também, a uma empolgação que ponha tudo a perder, como, por exemplo, aconteceu com o rei Salomão (I Rs.11:1-4).

– Quando a Bíblia fala em “ter fome e sede de justiça”, fala, precisamente, nas necessidades surgidas dos instintos humanos, daquilo que nos advém sem que queiramos ou pensemos, porquanto isto é da nossa própria natureza, da nossa própria índole.

A temperança é, pois, a qualidade do fruto do Espírito que lida com o controle do nosso temperamento, é o contato entre o caráter e o temperamento, daí porque ser difícil traçar qual é o ponto de equilíbrio, qual é a medida apropriada para cada gesto, pois cada pessoa é diferente da outra.

– A expressão “fome e sede de justiça”, também, evoca-nos a questão não só das necessidades instintivas, mas da própria justiça, que é a justa medida, que é a medida apropriada.

“Ter fome e sede de justiça”, portanto, é sentir necessidades e, mais do que isto, sentir a necessidade de as necessidades serem supridas na medida apropriada e adequada para cada um.

Só Deus sabe qual é a justa proporção, qual é o ponto certo do equilíbrio de cada um de nós.

Quando verificamos como se fazia a distribuição do maná no deserto ao povo de Israel, vemos que ninguém recebia a mesma porção de maná, mas cada um recebia o suficiente para sua alimentação diária (Ex.16:16-18).

Nosso Senhor não muda e, portanto, temos a promessa de que sempre nossos instintos serão satisfeitos na medida certa, que não temos que temer a nossa suficiência, desde que sigamos a direção de Deus e confiemos na Sua orientação.

Não façamos como os desobedientes israelitas, que colheram mais ou foram colher no sábado, tendo apenas gerado problemas e desagrado da parte do Senhor.

Sejamos sóbrios, esperemos inteiramente na graça que se nos ofereceu na revelação de Jesus Cristo (I Pe.1:13), porque a fartura, isto é, a suficiência nos está prometida e fiel é o que prometeu. Amém!

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

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